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A miopia do empreendedorismo





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Por: Vitorino Seixas

Nos últimos anos muito se tem falado, escrito e, sobretudo, discursado sobre as virtudes doempreendedorismo. No Brasil de hoje, o tema é, quase, uma obsessão. Quem promove as virtudes está “in”. Quem não foi contagiado pela febre do empreendedorismo está, definitivamente, “out”. Para empresários e governo, o empreendedorismo é a prioridade nacional.

Basta uma consulta no Google para ter uma ideia da miríade de projeto realizados por todo o país, assim como da diversidade de feiras e eventos para promover o empreendedorismo. A obsessão é tal que até é prescrito como panacéia para resolver o problema do desemprego. As promessas de cura milagrosa, que muitos apregoam, levam a pensar que estamos perante verdadeiros “curandeiros do empreendedorismo”.

Para compreender melhor este fenômeno é necessário analisar o primeiro pecado capital do empreendedorismo: a miopia. Alguém acredita que todos temos capacidade para cantar? Quem vê o programa Ídolos na televisão facilmente percebe que a esmagadora maioria dos candidatos não tem os requisitos mínimos para fazer carreira na música e ganhar a vida como cantor. Mesmo que gastem rios de dinheiro nas melhores escolas do mundo, estas nunca conseguirão dotá-los das capacidades que fazem os grandes cantores. O que temos visto no programa Ídolos, por exemplo, é que aqueles que têm talento rapidamente se destacam da multidão. Como escreveu Rubem Alves, um bom pianista não precisa de fazer força para tocar pois tem o piano dentro dele, desde o nascimento. Quem, como eu, não nasceu com o piano dentro, cedo descobre que o piano nunca passará de uma prótese. Nunca conseguirá colocar para fora um piano que não existe. Mais, nenhuma prótese resolverá a falta de talento.

Em outras áreas, como nos esportes, acontece o mesmo. A estratégia dos grandes clubes de futebol é identificar talentos nas camadas mais jovens e desenvolve-los para se tornarem profissionais de excelência, como aconteceu com Ronaldo Fenômeno, Robinho, Nilmar e tantos outros. Também no ensino, em especial nas grandes escolas de artes e universidades de prestígio, o processo de seleção dos alunos visa selecionar os que têm talento.

O empreendedorismo exige vocação

Se, regra geral, o talento é o ingrediente base, então porque nos tentam fazer crer que, no que toca ao empreendedorismo, não é preciso talento? Todos nós podemos ser empreendedores. Todos temos talento paracriar empresas, criar riqueza e alcançar o sucesso. Será que os “curandeiros do empreendedorismo” acreditam mesmo em tamanha mentira ou sofrem, pura e simplesmente, de miopia, uma doença que lhes permite ver com nitidez as vantagens do empreendedorismo mas os impede de enxergarem as suas inúmeras desvantagens, o que pode ter efeitos extremamente nefastos.

Por outro lado, a promoção de empreendedorismo assenta na noção de que a realização pessoal está estreitamente ligada à ideia de criar uma empresa. Atingir a realização profissional a trabalhar por conta de outrem é um cenário que os arautos do empreendedorismo nem colocam. Assim, não é de estranhar que cresça na sociedade contemporânea a tendência para endeusar os empresários de sucesso, enaltecer as suascaracterísticas empreendedoras e apontá-los como os exemplos a seguir.

O problema é que esses arautos omitem, deliberadamente, a outra face (negra) do empreendedorismo. Há um silêncio ensurdecedor sobre as falências, que constituem uma maioria absoluta, e os inúmeros suicídios dos empreendedores mal sucedidos. Verdade seja dita, para Alain de Botton, “a possibilidade de se chegar hoje em dia ao pináculo da sociedade capitalista é tão só marginalmente maior do que as hipóteses de se ser aceite no seio da nobreza francesa de há quatro séculos”. Segundo este famoso filósofo, o campo do empreendedorismo requer “uma síntese de imaginação e realismo dolorosamente invulgar” ou, por outras palavras, de um talento extremamente raro. “Qualquer idiota pode ter uma boa ideia, mas apenas algumas mentes brilhantes possuem a capacidade para estabelecer um negócio lucrativo”.

Para o comprovar, Botton refere o exemplo paradigmático de um investidor de risco que analisa anualmente 2.000 projetos para decidir investir em 10. Destes, ao fim de 5 anos, 4 já faliram, 4 estão no “ciclo de cemitério” e apenas 2 geram lucros significativos. O resultado de 0,1% de taxa de sucesso fala por si. A lição é evidente: não podemos promover o empreendedorismo, recorrendo ao exemplo de meia dúzia de empreendedores de sucesso, que são uma minoria residual, e “vender a ilusão” de que todos podemos empreender com o mesmo sucesso.

Neste contexto, a pergunta óbvia é: então, porque incentivamos milhares de pessoas sem talento a criar o seu negócio? Porque encorajamos essas pessoas a não desistir e os financiamos para se atirarem do “penhasco das realizações empresariais”, quando é evidente que cairão no fundo? Para quem tiver dúvidas, uma breve leitura dos planos de negócio dos novos empreendedores será suficiente para perceber que, regra geral, estão escritos num “subgênero da ficção contemporânea”. As descrições dos produtos, dos serviços e dos consumidores são uma ficção, sem qualquer sustentação na realidade do mercado, um erro que, mais tarde ou mais cedo, será punido com o encerramento da atividade.

Com uma mortalidade tão elevada quanto a observada no Brasil, incentivar o empreendedorismo sem corrigir a miopia de visão dos promotores faz lembrar os piro maníacos que ateiam os fogos pelo mero prazer de ver o seu poder destruidor. Parece que querem assistir à “beleza heróica da destruição do capital e da esperança, em consequência das atividades do empresário”, como escreve Botton. Como acontece com as bulas dos medicamentos, também no empreendedorismo, a promoção deve referir as indicações e as contra-indicações, ou seja os casos em que o empreendedorismo não deve ser prescrito. Decididamente, não se pode continuar a promover o empreendedorismo, fazendo crer que a exceção é a regra e que tudo será cor-de-rosa.

FONTE: http://www.empreendedoronline.net.br/miopia-do-empreendedorismo/